Presença de maltodextrina no coco ralado
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Um usuário do Instagram fez uma publicação chamando atenção para a presença de maltodextrina na lista de ingredientes de um produto que possui a descrição “sem adição de açúcares” no painel principal de sua embalagem. No post, diversos consumidores se sentiram lesados com a informação “contraditória’ do rotulo do produto. Porém, de acordo com a legislação Brasileira a maltodextrina não se enquadra na definição de açúcar. Para quem se interessar em saber um pouco mais a respeito da maltodextrina, segue abaixo um texto sobre o assunto.
A maltodextrina (Figura 1) é produzida a partir de um processo de transformação do amido. Este é o carboidrato de reserva dos vegetais (Figura 2). A indústria de alimentos faz a extração do amido das plantas e o transforma-o em maltodextrina. O objetivo é deixar o produto mais solúvel, pois o amido nativo não é solúvel em temperatura ambiente. Além disso, a transformação é realizada de tal forma que a maltodextrina não apresente gosto doce. Quando aplicado no coco ralado em pequena quantidade, a maltodextrina auxilia na fluidez do produto, ou seja, evita a compactação do mesmo em grumos, o que atrapalharia sua dispersão no momento da utilização. Portanto, a maltodextrina tem uma função tecnológica. E é por isso que ela é adicionada ao produto.
Figura 1 : Maltodextrina
Fonte: globo.com
Figura 2: Microscopia eletrônica de varredura dos grânulos de amido no tecido da batata Fonte: (MAGALI & LEONEL. 2010)
O questionamento feito pela pessoa do post está relacionado à digestão da maltodextrina, pois ela é um carboidrato. E como todo glicídio, ela passa por processos de degradação até ser transformada em glicose no organismo. Além disso, a maltodextrina é absorvida com maior facilidade, por ser mais solúvel em água. Essa característica faz com que sua velocidade de digestão seja maior, acarretando no aumento da glicose sanguínea após sua ingestão, ou seja, é considerada um alimento de alto índice glicêmico. Quando consumimos um alimento de índice glicêmico alto, elevamos rapidamente a glicemia sanguínea, levando a uma produção excessiva de insulina pelo organismo, a qual é muitas vezes é desnecessária, para cobrir esse excesso de açúcar no sangue. O problema é que esses picos de insulina são altamente prejudiciais para pessoas diabéticas ou com algum tipo de dieta com restrições de açucares (NOAL & DENARDIN, 2015).
Depois de entender o que é a maltodextrina e sua absorção no organismo você deve estar se perguntando o porquê deste produto possuir em sua embalagem a seguinte informação: “sem adição de açúcares”. A explicação está na legislação. Segundo a Resolução-RDC nº 271, de 22 de setembro de 2005, açúcar é a sacarose obtida a partir do caldo de cana-de açúcar (Saccharum officinarum L.) ou de beterraba (Beta alba L.). A maltodextrina não se enquadra nessa definição, pois não é sacarose e não necessariamente é proveniente da cana ou da beterraba. Então, em termos de legislação, não é incorreto dizer que o coco ralado não possui adição de açúcares. A informação contida no rótulo está de acordo com o que a nossa legislação estabelece.
Caso a pessoa que fez o post tenha se sentido prejudicada, o correto é entrar em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) - Ministério da Saúde e solicitar que a legislação seja revisada. Seria necessário a inserção da informação “contém carboidrato” para alertar os consumidores que tem restrição de consumo não somente de açúcares, mas sim de todos os carboidratos.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução RDC nº 271. Regulamento técnico sobre alimentos para açúcares e produtos para adoçar. Diário Oficial da União, Brasília, 22 de setembro de 2005.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução CFN nº 390. Regulamenta a prescrição dietética de suplementos nutricionais pelo nutricionista e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 27 de outubro de 2006.
CASAGRANDE, C. Estrutura dos grânulos de amido e sua relação com propriedades físico-químicas. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cr/2009nahead/a109cr517.pdf>. Acesso em: 10 de maio, 2019.
LEONEL, M. Análise da forma e tamanho de grânulos de amidos de diferentes fontes botânicas. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/cta/v27n3/a24v27n3.pdf>.Acesso em: 10 de maio, 2019.
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NOAL, D.T. e DENARDIN, C.C. importância da resposta glicêmica dos alimentos na qualidade de vida. Disponível em: < file:///C:/Users/Pichau/Downloads/33793-Texto%20do%20artigo-149644-1-10-20150516.pdf >. Acesso em: 08 maio. 2019.
PEREIRA, K.D. Amido resistente, a última geração no controle de energia e digestão saudável. Ciência e Tecnologia de Alimentos. v. 27, p. 88-91. Campinas, 2007.
SBD -Sociedade Brasileira de Diabetes. Índice Glicêmico (IG) e Carga Glicêmica (CG). Disponível em: <https://www.diabetes.org.br/publico/colunistas/96-dra-gisele-rossi-goveia/1267-indice-glicemico-ig-e-carga-glicemica-cg>. Acesso em: 10 de maio, 2019.
TRUSSARDI, P. Efeitos da ingestão prévia de carboidrato de alto índice glicêmico sobre a resposta glicêmica e desempenho durante um treino de força. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbme/v13n6/12.pdf>. Acesso em: 10 de maio, 2019.